Repetição difícil de ser rompida em casos de abuso sexual de mães e filhas.

24/09/2009 10:03

 

Por Rita de Cassia da Silva.

 

“A fragilidade do cristal não está em sua fraqueza, mas na sua delicadeza”

(A Natureza Selvagem – filme)

 

Este texto pretende analisar dois casos de abusos de mães que se repetem com as filhas, num caso o abusador é o mesmo e no outro mudam os abusadores.  Minha intenção neste texto não é esgotar o assunto e nem teorizar muito, mas abrir uma porta para estudos e discussões, já que é um assunto complexo. As duas garotas em questão estão em tratamento e uma das mães também está em tratamento, a outra em breve começará a ser atendida (ela está resistente, ainda não enfrenta a história pessoal e familiar de abuso, mas já permite o tratamento de uma das filhas). 

Antes, porém, quero fazer uma breve explanação sobre características de famílias onde o abuso é comum, sobre os conceitos de desenvolvimento afetivo, sexual e cognitivo, sobre dissociação e dinâmica familiar em lares abusivos. Vou utilizar o termo Nutrição Psicológica Geltalt Terapia para explanar algumas idéias. Além disso, gostaria de pensar sobre o conceito de repetição. O reconhecimento da repetição pode ser considerado  um fenômeno já não ligado à satisfação libidinal, mas, a uma tentativa de dominar experiências desagradáveis. No entanto, faz com que essa força pulsional produza a repetição da dor.

CARACTERIZAÇÃO DO ABUSO SEXUAL INTRAFAMILIAR

Nos casos atendidos há uma diversidade de relações de parentesco entre as pessoas envolvidas em relacionamentos incestuosos, demonstrando que eles aparecem de diversas formas. Assim, a relação incestuosa entre padrasto e enteados parece não ser explicada pela falta de laços consanguíneos, mas justamente pelo oposto: o padrasto cumpre a função social de pai. A maioria dos relacionamentos incestuosos ocorreu entre parentes próximos e consanguíneos, ou seja, entre pais e filhos e entre irmãos. Estes dados divergem da crença popular que considera famílias em risco para relações abusivas, as famílias reconstituídas, ou seja, aquelas formadas por novas uniões, onde a relação entre as pessoas não é confirmada pela consanguinidade. Embora nossa cultura tenda a atribuir maior gravidade aos crimes configurados por conjunção carnal (como o estupro, por exemplo), percebemos que a maioria das relações incestuosas foram permeadas por atos libidinosos diversos da conjunção carnal. (PELISOLI; DELL'AGLIO) 

Outro fator a salientar é o menor índice de relações abusivas envolvendo crianças ou adolescentes do sexo masculino como vítimas. Talvez os meninos tenham mais dificuldade em discriminar e, principalmente, denunciar as relações sexuais abusivas. Uma hipótese pode ser o fato da maioria das relações sexualmente abusivas serem percebidas como relações homossexuais, o que implica em mais um fator discriminatório, o que pode levar a uma estigmatização com o rótulo de homossexuais.

Questionamos aqui a definição de uma relação sexualmente abusiva, principalmente aquelas caracterizadas por toques e carícias. O fato de não oferecerem provas objetivas da ocorrência não diminui necessariamente a gravidade das conseqüências emocionais a seus participantes. É o caso, por exemplo, de determinados cuidados maternos. que se estendem aos filhos a um período maior do que o necessário, como mães que amamentam filhos de 3 anos de idade ou dão banho em filhos adolescentes. Esse acesso da mãe ao corpo dos filhos talvez ajude a mascarar uma relação abusiva, o que pode sugerir uma explicação ao fato de mulheres aparecerem em um índice muito baixo como abusadoras em vários estudos.

Alguns estudos quanto à duração de uma relação incestuosa, de acordo com Pelisoli e Dell’Aglio, mostram que, na maioria das vezes, a relação é duradoura, não se resumindo a alguns episódios. Das relações incestuosas nos casos que vamos apresentar, aconteceu por um determinado período de ocorrência, maior do que 1 ano e é suficiente para se concluir que a relação fazia parte do cotidiano da família em questão. A longa duração da relação incestuosa sugere a percepção, em algum nível, e o envolvimento de toda família, assumindo uma importância qualitativa, pois significa uma mudança no tipo de relacionamentos existentes dentro do grupo familiar, traduzindo-se numa violência psicológica. Uma relação sexual incestuosa que dura mais de um ano mostra que as pessoas diretamente envolvidas apresentam praticamente uma relação conjugal, seja entre pai e filha ou entre irmãos, por exemplo; é a demonstração concreta da troca de papéis dentro do grupo familiar.

Verifica-se que a denúncia dos casos de incesto foi feita em menor número por terceiros ou por outros parentes, que foram considerados aqui por parentes não envolvidos na relação incestuosa e que não moravam junto com a família em questão. Este dado pode significar que as famílias conseguem manter o segredo ou que as pessoas ainda mantêm o conceito da sagrada família, procurando não se envolver em conflitos percebidos em outras famílias.

A porcentagem maior de denúncias como mostram as pesquisas foram efetuada pela mãe, sendo seguida pela denúncia da própria criança ou adolescente abusada. O pai efetua a denúncias em poucos casos, parecendo que o mesmo tem dificuldade em exercer sua função de colocar limites dentro da família.

Nas famílias em que ocorreu relação incestuosa pai-filha(o) ou, padrasto-enteada(o), quando o casal morava junto, a maioria das denúncias apareceu por uma demanda da própria da criança/adolescente que vivenciou a situação ou por pessoas que não moravam na casa (terceiros ou outros parentes). A dificuldade da denúncia do companheiro pelas mães de crianças ou adolescentes abusados parece ser o indício de uma complexa relação, onde há uma impossibilidade de proteção ou cuidado materno aliado à relação incestuosa. Este dado percebe-se uma grande ambivalência de sentimentos destas crianças e adolescentes em relação a seus pais (biológicos ou substitutos). Mas se revelam muito mais nítidos, sentimentos de raiva ou desprezo em relação às mães do que aos pais ou padrastos. Na verdade, a criança ou adolescente parece responsabilizar a mãe pela relação sexual, sentindo mais raiva pela não interdição do que pelo ato sexual em si.

 

ABUSO SEXUAL E INCESTO: Uma maneira de entender o abuso infantil

Para Cohen e Gobbetti, o incesto é abuso quando se trata de crianças e adolescentes. Suas pesquisas indicam que a maioria dos pais abusivos tem na sua própria história de vida experiências de abuso ou negligência na infância. Além da percepção do ciclo vítima agressor, nota-se uma dinâmica específica nestas famílias onde se incluem todos os membros. Quanto ao conceito de família, funcionando como base do tecido social, este pode ser definido pela existência de um laço emocional diferenciado que justifique uma relação da qual se esperam funções psico-afetivas relativas a membros de uma família.

Trazemos aqui, a definição, de que o incesto manifesta-se através do relacionamento sexual entre pessoas que são membros de uma mesma família, sendo que a família não é definida apenas pela consanguinidade ou mesmo afinidade, mas, principalmente, pela função social de parentesco, exercida pelas pessoas dentro do grupo. (COHEN; GOBBETTI, 1998.)

Mundialmente, é difícil estabelecer uma estimativa dos casos de incesto, devido ao estigma e ao segredo que envolve estes casos. Considerando a concretização do incesto como a atuação de desejos que violam as leis sociais, que instituem o funcionamento da família, acredita-se que a possibilidade de compreensão desse fenômeno e de seu tratamento esteja estreitamente ligada à inserção de uma lei interna que é da repressão e outra externa proporcionada pela cultura. Dentro da percepção de que o incesto é um problema que envolve toda a família, prioriza o atendimento familiar, pois considera necessário um trabalho terapêutico para que esta funcione como um grupo estruturado, realizando também atendimento individual para alguns membros do grupo. Na experiência clínica, percebemos que a problemática é muito mais ampla e complexa, havendo o envolvimento, direto ou indireto, de toda a família numa dinâmica inconsciente que favorece a existência de uma relação sexual incestuosa.

 

Conceitos de desenvolvimento, de Repetição e de Dissociação.

O desenvolver humano pode ser explicado de diversas maneiras e de acordo com as abordagens existentes sobre o assunto, por exemplo, na psicanálise o desenvolvimento psicológico percorre o desenvolvimento sexual, no construtivismo piagetiano o desenvolvimento cognitivo acompanha o físico e emocional, e assim por diante. No entanto, em todas as teorias um desenvolvimento normal requer um ambiente saudável, com estímulos adequados, cuidados adequados e alimentos adequados. O termo alimento psicológico explica o desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e sexual. Uma mastigação adequada dos alimentos psicológicos, bem como uma digestão adequada, nutri o desenvolvimento humano em todas as suas dimensões. Amor, respeito, carinho, atenção, cuidado e proteção são alimentos saudáveis e tão importantes quanto os alimentos orgânicos.  Já a raiva, fúria, desrespeito, agressão, violência, abandono, são tóxicos e provocam transtornos emocionais e alimentares, já que não podemos digerir adequadamente cada um deles. Violência, desproteção e medo excessivo intoxicam nosso corpo e nossa mente dificultando o desenvolvimento. Um bom desenvolvimento precisa de uma boa nutrição psicológica.

Crianças maltratas e abusadas desde a tensa infância terão seu desenvolvimento comprometido. Na esfera cognitiva a acriança pode ter atraso, na esfera emocional ela pode desenvolver transtornos mentais, bem como transtornos no desenvolvimento físico. Tornam-se crianças fragmentadas, embotadas e precisam reunir pedaços de si mesmas para terem um senso de eu, de você e de ele, antes mesmo de compreenderem que fizeram com ela algo que não deveriam (Alvarez, 1994). Para chegarem a essa proposição requer-se um aparelho mental com um grau considerável de desenvolvimento para compreender o que está acontecendo com ela. O tratamento dessas crianças deve começar primeiro dando essa condição a criança, ou melhor, facilitar a construção desse equipamento mental que ela ainda não possui.

Segundo Pires e Miyazaki vários estudos mostram que crianças submetidas à violência doméstica, quando comparadas às que não sofreram violência, são mais agressivas, têm baixa auto-estima, déficit de atenção, hiperatividade, dificuldade de relacionamento interpessoal, comportamento abusivo (serão também abusadores), baixo rendimento escolar, delinqüência, gravidez precoce, uso de drogas, capacidade cognitiva e de desenvolvimento da linguagem inferiores. Além disso, estas crianças e adolescentes apresentam graves conseqüências físicas, como dor, sofrimento ou estresse associados ao abuso crônico, pois vivem em constante estado de alerta para maus-tratos. Algumas crianças demoram a crescer e tem seu amadurecimento (emocional, cognitivo, físico e sexual) comprometido.

A história mostra que a violência a que a criança é submetida, sob forma de espancamentos, abandono, escravidão, mutilações e infanticídios, provocam fragmentações na personalidade. A violência e o abuso contra crianças e adolescentes é um grave problema, pode produzir déficits na personalidade quando o trauma começa a colorir toda a personalidade. A criança pequena não tem um aparelho mental suficientemente capaz de compreender a violência e o abuso sexual. Consequentemente crescem com distorções[1] em todos os processos de desenvolvimento. Em alguns casos de adultos que sofreram abusos recorrentes na infância percebemos que ficam estagnados em algumas fases de desenvolvimento. Alguns não avançam em relacionamentos com parceiros adequados, alguns escolhem parceiros violentos e abusadores, alguns repetem o abuso ou permitem que este se repita consigo mesmo ou com sua prole. Alguns demonstram uma total incapacidade de se proteger e proteger sua prole do abuso. Demonstram uma certa infantilidade e regressão, como se não tivessem crescido, não fossem adultos suficientes para proteger ou evitar que o abuso venha a repetir-se. 

 

O CONCEITO DE REPETIÇÃO PODE EXPLICAR A INCIDÊNCIA DE ABUSOS INFANTIS.

A repetição, segundo o dicionário Houaiss, é o ato ou efeito de repetir (se), ou reiteração de um ato. É, também, um termo usado por Freud dentro da psicanálise. A lógica da repetição freudiana obedece à lógica do principio do prazer, e é retomada como prazer da repetição. Existe uma tendência de percorrer o caminho que já se percorreu, pois novos caminhos impõem resistência e assim, repetir significa diminuir essa resistência. Repetir significa não conseguir fazer diferente. Fazer diferente requer uma compreensão ou certa noção de não-abuso, de autorespeito e autovalorização. O que não ocorre em casos mais graves de trauma por abuso, já que há um encapsulamento do material traumático.

GARCIA-ROZA (1986), apud França; Rodrigues, e Mendes,  introduzirá em seu livro "Acaso e repetição em psicanálise" uma distinção que poderá ser útil para alinhavarmos um raciocínio acerca do tipo de repetição que facilita a instalação da cena onde uma mãe que foi abusada na infância permite o abuso de sua prole pelo mesmo homem que abusou dela. Assim, nos fala da relação entre repetição e transferência.  García-Roza afirma que: “Na transferência dá-se uma repetição de protótipos infantis, essa repetição não é uma reprodução de situações reais vividas pelo paciente, mas equivalentes simbólicos do desejo inconsciente. O que implica, que fizéssemos uma distinção entre ‘repetição do mesmo’ e ‘repetição diferencial’. Se a transferência é repetição, ela é uma ‘repetição diferencial’, e somente sob este aspecto a repetição toma um sentido positivo e pode constituir-se como um instrumento no sentido de cura.” . Repetir ou transferir para outra pessoa o ultraje a que foi exposta, pode ser uma tentativa de expressar aquilo que não puderam nem pensar nem sentir quando criança. A cura só acontece quando ela é auxiliada ou contida por outra pessoa e levada a suportar aquilo que lhe é esmagador e indigesto. Desta forma ela poderia evitar o abuso de outrem.

A repetição que se instala quando uma mãe que sofreu abuso se torna conivente com a violência sexual sofrida por sua filha pode ser repetição de si mesma, uma vez que não produz novidade e aproxima-se da reprodução estereotipada.

Segundo França, Rodrigues e Mendes essas mães “são impelidas a reproduzir a situação original, criando um ciclo silencioso que não consegue promover ligações psíquicas, mas constitui-se como uma forma primitiva para dar um destino ao excesso pulsional provocado pela traumatização de que foram vítimas no passado.”

A mãe acaba por se identificar com o agressor onde permite a repetição por vingança já que foi abandonada e não protegida. É uma característica sado-masoquista que na verdade nada mais é do que uma arma do ego para resolver objetos que provocam angustia. Tudo isso é conseqüência do abuso sexual e, deste modo, percebe-se a força traumática que está dentro da mãe abusada.

Ainda segundo França, Rodrigues e Mendes, “para Ferenczi, os fatos de um abuso sexual se processariam da seguinte maneira: um adulto seduz uma criança e o ato sexual, apesar de ser desprazeroso, é interpretado pela criança conforme suas próprias referências, a partir da linguagem da ternura, e o adulto pratica o ato a partir da linguagem da paixão. Como o adulto abusador não é um perverso na concepção da criança (pode ser o pai ou um familiar de quem a criança gosta), o que se segue à cena do abuso é um sentimento de culpa que reforça o silêncio e faz com que ele afirme à criança que nada aconteceu. Essa atitude de negação da realidade torna o abuso sexual algo incompreensível para a criança, provoca medo e faz com que ela se sinta sozinha e abandonada. Por não dispor de palavras adequadas para significar o ocorrido, a culpa do adulto aparece como único vestígio do que ocorreu entre eles e é esta culpa que será introjetada pela criança através do mecanismo de identificação com o agressor.

A criança se acha merecedora da violência porque introjeta a culpa do adulto agressor, a violência que está sofrendo é uma punição. Essa culpa a mantém em silencio a respeito do abuso, e se tornam incapazes de reagir ou de se defender frente ao desprazer que o abuso lhe infringe e permanecem passivas durante a agressão. O assujeitamento silencioso frente a agressão permanece nas vitimas de abuso e imprimem nelas uma marca de compulsão à repetição em seus relacionamentos amorosos e em sua vida sexual na idade adulta.

Assim, o conceito de identificação com o agressor aliado à noção de repetição abre a possibilidade para que sejam mais bem compreendidos os efeitos transgeracionais do abuso sexual: quando meninos abusados tornam-se agressores sexuais e mulheres que sofreram abuso na infância se envolvem com homens potencialmente abusadores ou tornam-se cúmplices diante do abuso de seus filhos, por vezes pelo mesmo homem que abusou delas quando criança”. (França, Rodrigues e Mendes).

O Tratamento psicoterápico é uma possibilidade de saída desta repetição do trauma, já que possibilita que a mãe abusada faça conexões entre a situação originalmente vivenciada e a sua manifestação atual. O terapeuta pode utilizar o conceito de  repetição como instrumento de cura.

 

DOIS CASOS DE REPETIÇÃO NA FAMILIA DO ABUSO SUXUAL

Veremos os dois casos atendidos no Espaço Criança:

Caso n. 1 (M) – Menina de 9 anos, abusada pelo avô. Ela conta que ele tirou a roupa, dele e dela, e subiu em cima dela, mas ela conseguiu gritar e foi socorrida pelo irmão. A mãe foi abusada por este avô dos 8 anos aos 14 anos. Com 14 anos não agüentava mais o abuso e começou a sair com outros homens para ver se engravidava e, assim, sair de casa. O pai (padrasto) dizia-lhe que se contasse à mãe ela iria morrer. Aos 14 anos engravidou e teve um filho (o garoto que salvou a irmã do avô), mas não sabe quem é o pai dele, existe a possibilidade de que seja o padrasto. Mudou-se e foi morar com um homem, deixando este filho com a avó e avô (padrasto). O papel desse filho era o de salvá-la do pai e quando consegue sair de casa, esse filho não é mais obrigação. Engravidou novamente do homem com quem mora e ele mandou-a escolher, entre ele ou o bebê, ela foi embora. Nasceu a menina (M) que também foi deixada com a avó aos 6 meses. Mudou-se de estado, pois foi jurada de morte por um outro companheiro. Aos 8 anos, sua filha, sofre a tentativa de abuso, o padrasto (avô), tentou fazer com M. o mesmo que fez com a filha e foi pego desta vez. Foi feita uma denuncia no conselho tutelar, mas nada aconteceu com ele. A avó foi ameaçada, pelo Conselho Tutelar de ser presa caso não retirasse a menina do convívio com o avô. Assim, ela foi enviada para a mãe em outro estado, depois de 8 anos e 6 meses. O avô é alcoólatra e nunca foi punido pela tentativa de abuso. A primeira pergunta que fiz quando ela estava contando a história da filha foi: você também foi abusada por ele, ela caiu em prantos, ficou muito irritada e disse: eu passei estes anos todos tentando esquecer e você me faz lembrar disso agora. A segunda pergunta foi: por que ela deixou a filha convivendo com seu abusador, ela responde que achava que ele não faria nada com ela. Esta pergunta a deixou angustiada e na sua angustia percebi a menina indefesa que estava dentro dela. É como se me dissesse: como iria proteger minha filha se estou até hoje desprotegida. A Mãe de M. começou a se prostituir com 17 anos em troca de qualquer coisa, ela queria esquecer o que havia acontecido com ela e o pai, não conseguiu manter relacionamento fixo com ninguém, pois isso a fazia sentir coisas que a remetia a lembranças do abuso. Aos 16 anos descobre que ele não era seu pai biológico e fica furiosa. Acredita até hoje que se soubesse que ele não era seu pai, ela teria se defendido dele. Será que conseguiria mesmo? Hoje, casada e mãe de uma garota de 2 anos, ela tem dificuldades em manter relação com seu marido. Diz que é mais fácil quando não há compromisso. Isso pode ser entendido como uma grande dificuldade de se entregar numa relação adulta normal.

Como vimos, a criança responde ao adulto, mesmo quando este representa ser seu cuidador, com ternura, ainda que o ato seja desprazeroso. Assim, a mãe de M, ficou em silencio, não somente pela ameaça do padrasto, mas também, por não compreender o que acontecia com ela. Somente saiu da situação quando atinge mais consciência do desprazer que tudo aquilo lhe causava. Mesmo que tenha achado uma solução nada adequada, não podemos esquecer que tinha apenas 14 anos e como adolescente que era ela se salva da situação com uma gravidez. O filho é gerado para salvá-la e cumpre bem esta missão, além de salvá-la, salva também a irmã. Esta mãe nunca conseguiu ser mãe de  verdade, de nenhum destes dois filhos, não acompanhou o seu desenvolvimento deles e não conseguiu proteger M. do padrasto. Não pensava em M como sua filha. Vejam que as duas foram abusadas com a mesma idade e salvas pela mesma pessoa. A história se repete.Com pouco tempo de tratamento de mãe e filha, já percebemos que esta mãe já consegue ser mãe de M. Recentemente, numa das sessões, M, jogou o dado dos sentimentos (instrumento que utilizamos nas sessões) e caiu a palavra alegria, perguntado o que a faz sentir alegria hoje, ela diz que é:  ter uma mãe. Sua fala mostra que a mãe de M. já está conseguindo exercer sua função materna. Um grande passo que ela já deu no caminho para a cura.

Indaguei à mãe de M. se podia me explicar porque sua mãe (avó de M.) nunca percebeu e nem fez nada para protegê-la do padrasto. Ela me respondeu que não sabia. Ela acusa a mãe pela falta de proteção e a mãe a acusa de nunca ter lhe contado porque gostava. Fiz a pergunta se, acaso, a sua mãe tinha sofrido algum tipo de abuso, e ela respondeu que a mãe quando tinha 13 anos, morava na roça, e levava todos os dias o almoço para o pai, num dia desses, um vizinho a pegou pelo caminho e estrupou-a. Ela contou ao pai que lhe disse que só aconteceu isso porque de alguma forma ela provocou o vizinho e a expulsou de casa. Ela engravidou e foi morar na cidade, na rua. Conheceu o padrastro que a acolheu e disse que iria ajudá-la a criar a criança que esperava. Entendi que ela também era uma mulher desprotegida e que dificilmente teria condições de proteger a filha e a neta. Vejam que seu argumento é igual a pai, ou seja, acusar a vitima.

Caso n. 2 (P)– Menina de 8 anos abusada pelo irmão de 17 anos. Mãe conta que foi abusada aos 13 anos, teve uma filha em conseqüência desse abuso que hoje tem 19 anos. Casou-se em seguida, e com este marido teve esse filho de 17 anos mais 3 filhas. A mais velha de 19 anos foi abusada por este padrasto aos 12 anos. Este marido é violento e espanca esta mãe desde que se casaram. A mãe diz que ele não bate nos filhos porque ela entra no meio e apanha no lugar deles. A caçula de 8 anos (P), a segunda de 9 anos foram abusadas pelo irmão de 17 anos. É necessária uma investigação para ver se o filho de 17 anos também foi abusado na infância. A terceira filha de 13 anos foi abusada pelo marido de uma prima. A mãe apresenta o mesmo sentimento de desproteção e chora pelas filhas como se não tivesse como protegê-las do abuso, no entanto, ela consegue apanhar no lugar das filhas para protegê-las, mas é indefesa em relação ao abuso. Quem hoje protege as irmãs é a garota de 13 anos que passou por uma psicóloga durante 1 ano e meio. É esta garota que impede o irmão de chegar perto das irmãs mais nova e o pai de fazer alguma coisa com a irmã mais velha. O pai quando soube do acontecido deu apenas um tapa no rosto do garoto e nunca mais falou do assunto. Nunca houve denuncia e tudo se mantêm entre a família. A madrinha de P procurou ajuda para a garota porque ela está apresentando problemas escolares. Foi a madrinha quem explicou o que acontecia com esta família na primeira sessão, a mãe presente apenas chorava. A madrinha quer adotar P, mas o pai não permite. Diz que os filhos são dele e têm que ficar com ele. A mãe numa segunda sessão, estava sozinha, muda um pouco a história, começa contando a sua, onde foi seqüestrada por um namorado (arranjado pelos pais) que abusou dela, ele tinha entre 17 e 18 anos. Manteve relação sexual forçada (estupro) com ela durante vários dias e depois a deixou voltar para casa. Ela tinha entre 13 e 14 anos. Nunca mais voltou a ver este rapaz. Ela ficou grávida e a família mudou para outro estado. Com vida nova e grávida, conhece o marido e vai morar com ele. Ele assume a sua filha e ajuda a cuidar dela. No entanto, com 3 meses depois do parto ela entra em depressão, o marido começa a espancá-la para que ela saísse da cama. Nunca casou legalmente com ele, já se separou 4 vezes, mas, sempre volta. Diz que não o ama, mas sente pena dele. Ela é compulsiva por compras e comida. Sua filha mais velha (19 anos) está em tratamento psiquiátrico por causa de uma depressão, o filho agride as irmãs menores. Ela não consegue resolver os problemas com ele e deixa tudo nas mãos da filha de 13 anos. Perguntei se ela não percebeu nada no marido e no filho, ela disse que nunca imaginou que eles pudessem tocar nas filhas. Fica angustiada e chora, parecendo uma menina desprotegida. Em outros momentos fala do marido e do filho como se eles não tivessem feito nada com suas filhas. Ela é resistente ao tratamento. Só permitiu o de P porque a madrinha exigiu. Não quer fazer tratamento e não permite que a filha mais velha, que está com depressão, faça o tratamento. Parece ter medo que o segredo familiar seja revelado e assim, tenha que tomar alguma medida, o que parece não conseguir. P é uma garota frágil e insegura, quer viver com sua madrinha e sair deste ambiente de dor e confusão, mas, sente pena da mãe, não quer deixá-la sozinha, quer protegê-la do pai. Não gosta do irmão, este além de abusar dela, deixou que um amigo seu também abusasse da menina. No momento mora com a família durante a semana e nos fins de semana com a madrinha. Quem a leva nas sessões de terapia é a irmã de 13 anos, uma garota com um semblante muito triste. A mãe acompanha pouco o tratamento. Oferecemos ajuda a ela através do Espaço Criança, que é gratuito, mas ela não se mostrou interessada até o momento.

Este caso já mostra uma certa identificação com o agressor. A mãe de P sente culpa desde seus 13 anos quando foi abusada pelo namorado com quem ia casar, está culpa que aparece como único vestígio do que ocorreu ela funciona como mecanismo de identificação com o agressor de suas filhas. Veja que seu filho tem 17 anos, a mesma idade de seu abusador quando começa abusar das filhas. Ela pode estar revivendo sua situação de 13 anos e, achar que é merecedora de punição. Ela se mantém em silencio e é incapaz de reagir e de defender suas filhas do abuso que lhes está sendo infringido, permanece passiva diante do filho e do marido.

Como foi dito, o assujeitamento silencioso frente a agressão permanece nas vitimas de abuso e imprimem nelas uma marca de compulsão à repetição em seus relacionamentos amorosos e em sua vida sexual na idade adulta. Ela se casa com um homem que abusa e agride, tem um filho que abusa e agride. Torna-se cúmplice deles diante do abuso de suas filhas, pois, não as protege de nenhum deles.

Os casos acima refletem bem a repetição. A repetição acontece e as mães, num primeiro momento, negam a possibilidade dela, e num segundo momento, parecem infantilizadas, desprotegidas tanto quanto as filhas abusadas. Não foram protegidas e, portanto, não conseguem proteger as filhas. As filhas quando abusadas trazem para as mães o retorno ou lembranças revivificadas que sãos os traços ou impressões mnemônicas originais que voltam à consciência. Para Freud isso teria que ser modificado ao entrarem na consciência, no entanto, temos duas mães que voltam a ficar crianças (regridem) quando se deparam com o abuso das filhas e deste modo, elas não conseguem modificar, fazer diferente, e menos ainda conseguem protegê-las. Não há novos caminhos a serem percorridos para essas mães, já que voltam a ficar meninas, resta a repetição. A repetição da dor evidencia a impossibilidade de escapar de um movimento de retornar a origem. Essa origem foi geradora de sofrimento, conservam um caráter doloroso, assim reencontram-se em sua impotência. Voltam a ser crianças desprotegidas.

O tratamento tem que levar em conta o material traumático como força propulsora da repetição. Além disso, é preciso lembrar que a mente humana é tão complexa, com tantos fatores agindo, tanto internamente como no ambiente, que pode ocorrer saltos, regressões e movimentos colaterais que perturbam e rompem qualquer conceito de progresso no tratamento do adulto e da criança abusada. Portanto, cabe ao terapeuta lembrar o seu paciente que a cura depende de pequenos passos, e um de cada vez. Não se pode esperar grandes saltos, principalmente no adulto, onde o trauma já fica como parte de sua estrutura mental, é preciso caminhar de vagar, cuidar e cuidar, proteger e proteger, para depois curar a ferida.

 

ENTENDENDO MAIS OS DOIS CASOS

Distúrbio Dissociativo da Identidade e Abuso Infantil: Uma Conexão

Notamos também que as duas mães apresentam distúrbios de dissociação. A dissociação neste caso é uma defesa do ego para esquecer a história do abuso. De acordo com o Manual Merck, seção 7, capitulo 90, o Distúrbio Dissociativo pode ser definido como uma interrupção nas funções integrativas de consciência, memória, identidade e percepção do ambiente. Sintomas dissociativos estão em continuidade entre a normalidade e a psicopatologia, podendo ser encontrados nas pessoas sem transtornos psiquiátricos, até constituírem eles mesmos uma síndrome. Quase todos (97 a 98%) os adultos com distúrbio dissociativo da identidade relatam ter sofrido algum tipo de abuso durante a infância. Isso pode ser documentado para 85% dos adultos e 95% das crianças e adolescentes com distúrbio dissociativo da identidade. Embora o abuso infantil seja uma causa importante do distúrbio dissociativo da identidade, isto não significa que todos os abusos específicos alegados pelos pacientes realmente ocorreram. Alguns aspectos de determinadas experiências relatadas são claramente inexatos. Alguns pacientes não sofreram abuso, mas uma perda importante precoce, como a morte de um dos genitores, uma doença grave ou alguma outra experiência muito estressante.

 Tratamento e Prognóstico

O distúrbio dissociativo da identidade requer a psicoterapia, que é geralmente facilitada pela hipnose. Os sintomas podem surgir e desaparecer espontaneamente, mas o distúrbio não desaparece por si. A medicação pode aliviar alguns sintomas específicos, mas não afeta o distúrbio em si. Comumente, o tratamento é árduo e emocionalmente doloroso. O indivíduo pode vivenciar muitas crises emocionais decorrente de ações das personalidades e do desespero que podem ocorrer quando memórias traumáticas são recordadas durante a terapia.

O terapeuta freqüentemente utiliza a hipnose para trazer à tona (ter acesso) as personalidades, facilitar a comunicação entre elas, estabilizá-las e integrá-las. A hipnose também é utilizada para reduzir o impacto doloroso das memórias traumáticas. As sessões visam integrar as personalidades em uma só ou uma interação harmoniosa entre as personalidades que permita uma vida normal e sem sintomas. A integração das personalidades é o ideal, mas nem sempre ela é possível para todos os indivíduos com esse distúrbio. As visitas ao terapeuta são diminuídas gradualmente, mas é raro que elas terminem.

O prognóstico dos indivíduos com distúrbio dissociativo da identidade depende dos sintomas e das características do distúrbio. Alguns apresentam sintomas predominantemente dissociativos e características pós-traumáticas, isto é, além dos problemas de identidade e de memória, eles sentem ansiedade em relação aos eventos traumáticos e ao alívio e recordação dos mesmos. Normalmente, eles recuperam-se bem e levam uma vida normal. Outros indivíduos apresentam outros problemas psiquiátricos graves (p.ex., distúrbios da personalidade, do humor, da ingestão de alimentos e dependência de drogas).

Os problemas melhoram lentamente e o tratamento pode ser menos eficaz, mais prolongado e com mais crises. Finalmente, alguns indivíduos, além de apresentarem problemas psicológicos graves, também permanecem profundamente envolvidos com as pessoas acusadas de abuso. O tratamento é comumente longo e caótico e visa reduzir e aliviar os sintomas. Algumas vezes, mesmo um paciente com um prognóstico ruim melhora o suficiente com a terapia para sobrepujar o distúrbio e avança rapidamente para a recuperação.

UM TRATAMENTO ALTERNATIVO

Os Sistemas Energéticos do Corpo.  (por Gastão Ribeiro)

Em tudo que se vê: sol, lua, planetas, no sistema solar, nas estrelas, existe energia. No nosso mundo existem energias positivas e negativas, que nos afetam continuamente de um milhão de maneiras. Nossos pensamentos, emoções são energia, e nossas ações como ler este texto são formas de energia.

Nossos corpos têm uma natureza elétrica. Ao tocar uma panela quente sentirá a dor instantaneamente porque esta é transmitida eletricamente ao pelas terminações nervosas, até seu cérebro. A dor viaja na velocidade da eletricidade e é por isto que a sentimos tão rapidamente. As mensagens elétricas fluem constantemente através do nosso corpo para mantê-lo informado do que acontece. Sem esta energia, não poderíamos ver, ouvir, sentir, saborear ou ler.

Outra pequena evidencia da existência da eletricidade (energia) no corpo é através de um eletro encefalograma (EEG) e de um eletrocardiograma (EKG), o EEG grava a energia elétrica do cérebro e o EKG grava a atividade elétrica do coração. Estes dispositivos têm sido usados pela ciência médica durante décadas.

Nossos sistemas elétricos são vitais para nossa saúde física. Há cerca de 5000 anos, os chineses descobriram um sistema complexo de circuitos de energia que corem através do corpo. Estes circuitos de energia o Meridianos, como os chamam no Oriente, constituem o centro das praticas orientais de saúde e formam a base da acupuntura moderna, a acupressão, e uma ampla gama de outras técnicas.

Aquilo que chamamos de Terapia Energética tem como objetivo utilizar técnicas que ajudem a usar a sua energia vital para resolver os problemas emocionais e físicos. O principio básico é entrar em contato com o sistema energia, equilibrá-lo eliminando as causas dos problemas emocionais.

Trabalhando os sistemas energéticos do corpo

Quando as pessoas não conseguem resolver ou entender os problemas entram em um jogo de culpa. Isto reduz a alta estima, gera confusão, e não conseguem achar a ajuda que necessitam.

A Psicoterapia de Energia proporciona aos terapeutas acessar o problema sem um entendimento cognitivo, a trabalhar as dificuldades sem ter que analisar e discutir os aspectos da vida. Utilizando os processos de auto cura do corpo. Assim, nem sempre é preciso acessar as memórias (imagens) do trauma. No caso de abuso sexual pode-se tratar de forma indireta sem o perigo de provocar retraumátizações.

A questão essencial da psicologia energética é o desequilíbrio que proporcionam os distúrbios. As Terapias de Energia baseiam-se no modelo da medicina chinesa de meridianos de energia. Os meridianos são linhas longitudinais que conectam diversos pontos análogos do corpo humano. Este estudo parte do princípio que ao ser ativado um ponto do meridiano, outras partes do organismo estarão sendo igualmente estimuladas.

Esta nova abordagem acredita que as emoções são as resultadas de bloqueios na circulação de energia através dos meridianos do corpo. O desbloqueio desta energia se dá pela percussão em certos pontos de determinados meridianos, realizada pelo próprio cliente. Acredita–se que certas reações emocionais provêm de perturbações energéticas que bloqueiam o processo de recuperação da circulação da energia. Freqüentemente certos estados emocionais se dissipam em poucos minutos, incluindo estados resultantes de inúmeras exposições a experiências traumáticas.

As principais Técnicas que se utilizam destas novas abordagens, são: EMDR Dessensibilização e Reprocessamento Através de Movimentos Oculares; TFT Terapia do Campo do Pensamento; EFT Técnica de Liberdade Emocional; TAT Técnica de Acupressão de Tapas Fleming.

 

CONCLUSÕES

O trabalho de atendimento em saúde mental com famílias permite a observação das interações afetivas entre os membros do grupo e possibilita a interpretação destas interações através das motivações inconscientes. São os indivíduos e os complexos modos de se relacionarem socialmente que estabelecem a chamada dinâmica familiar.

Percebemos a relação sexual incestuosa como sintoma de uma dinâmica familiar não estruturada, na qual todos os indivíduos encontram-se envolvidos. Algumas características, como a longa duração destas relações e a dificuldade da denúncia são esclarecedoras neste sentido. A compreensão do funcionamento psicossocial da família incestuosa deve levar em conta não só o abuso sexual genital relatado, mas a dinâmica afetiva da família como um todo.

Desta forma, as marcas objetivas, que são valorizadas pela sociedade, não caracterizam a gravidade do abuso. O abuso trata primordialmente da impossibilidade de estruturação do indivíduo; a atuação dos desejos incestuosos não permite o pensamento simbólico e, portanto, a assimilação das funções sociais para o desenvolvimento mental do indivíduo. Portanto, a definição de abuso sexual, utilizada na nossa cultura através da Justiça, é uma definição moral de proibição que, por vezes, distancia-se das preocupações da área de saúde mental, que caminham no âmbito ético das relações humanas. A violência do abuso não pode ser traduzida apenas pela relação sexual genital, mas principalmente pela não diferenciação das funções familiares.

O tratamento deve levar em conta a família como um todo. O abuso precisa ser encarado como relações inadequadas, dentro de uma família desestruturada. O trabalho precisa levar pensar o trauma e o significado que ele vai tomando na vida da família. Precisamos considerar que o trauma passa a ser parte estruturante da personalidade. Em mães vitimizadas temos que nos lembrar desta característica ao analisarmos a repetição com a(s) filhas(s).

Para o tratamento também temos que pensar como utilizar as técnicas de interpretação, bem como hipnose, já mencionada, é preciso cautela e cuidados para não levar direto ao trauma, senão causamos ab-reações desnecessárias, além do perigo de retraumatizar. Podemos utilizar de técnicas de terapias energéticas que facilitam a cura dos traumas sem que a pessoa necessariamente tenha que passar pela recordação dos mesmos como na hipnose. As técnicas energéticas psicoterápicas voltadas para traumas podem ser entendidas dentro do sistema energético de nosso corpo como vimos acima e regulam este sistema sem perigo para o paciente vitima de abuso.

Como diz a frase de efeito no inicio deste texto, a fragilidade do cristal não está na sua fraqueza, mas na sua delicadeza. Cuidar de criança abusada e de adultos abusados requer olhar para a delicadeza de sua alma ferida e não na sua fraqueza, que pode ser um sintoma. A infância, como diz Gastão Ribeiro, é muito frágil para ser abandonada. Imaginem a infância que sofreu abuso e tem sua psique dilacerada.

 

Referências Bibliográficas

Alvarez, A. Companhia Viva. Psicoterapias Psicanalítica com crianças Autistas, Bordelaine, Carentes e Maltratadas. 1994, ArtesMédicas: Porto Alegre.

Cohen, C e Gobbetti, G. J. O INCESTO: O Abuso Sexual Intrafamiliar.  www.cedeca.org.br/PDF/incesto_cohen.pdf

França, C. P.; Rodrigues, D. H. e Mendes, A. P. N. A violência do abuso sexual infantil: interfaces da compulsão à repetição e da identificação com o agressor. Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Departamento de Psicologia.

Gastão Ribeiro. Apostila do curso: Os primeiros cuidados com a criança traumatizada.

Pelisoli, C. T. ;  Dell'Aglio, D. A percepção de família em vítimas de abuso sexual intrafamiliar: Estudo de caso.. Arquivos Brasileiros de Psicologia, Brasília, DF, 59.2, 10 12 2007.

Pires, Ana L.D.; Miyazaki, Maria C.O.S. Maus-tratos contra crianças e adolescentes: revisão da Literatura para profissionais da saúde. Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP). São José do Rio Preto – SP.

 

 

                                                            Rita de Cassia da Silva

                                                            Mestre e Doutora em Educação

                                                            Formação em Técnicas de Psicoterapias para Traumas

                                                            Espaço Criança

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[1] Lembrando que o termo distorção, de acordo com o Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa (Versão 1.0, dezembro de 2001), significa alteração da forma, de características estruturais, desvirtuamento, infidelidade. No Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, distorção vem de torcer, que quer dizer dobrar, vergar, entortar, alterar, desvirtuar. Assim, é possível que o abuso infantil pode alterar características estruturais da personalidade de uma criança.

 

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